Eu e meus primos...

Eu e meus primos...

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Uma história cabeluda com Muhhamad Ali

Meu primo de dez anos estava ligado a seu pai pelo esporte. Era o vínculo mais forte entre os dois. Assistir a jogos de futebol e sobretudo de basquete, pois o pai fora pivô do juvenil do Flamengo, do alto de apenas um metro e setenta e sete. Tudo muda. Mas naquele dia, ou melhor, naquela noite, iam assistir a uma luta de boxe. Não qualquer luta, mas uma batalha em 15 assaltos entre Joe Frazier, defendendo o título de pesos pesados e o lendário Muhammad Ali. Meu priminho adorava a postura irreverente e lúdica de Ali, quando dançava no ringue e desafiava seus oponentes como se fosse invencível e sem nenhum medo. Tempos depois ele foi descobrir como era a preparação física de Ali. Segundo o próprio, ele corria até ficar completamente esgotado, sem poder dar mais um passo. Aí corria mais dois quilômetros… Anos mais tarde admirou Ali mais ainda, por sua postura contra a Guerra do Vietnã.
O pai dele sabia daquela admiração do menino por Ali. E talvez já estivesse preocupado por que o garoto ostentava uma cabeleira de responsa, em 1971 isso cheirava a rebeldia. Sendo assim, propôs uma aposta. Ele dava um dinheirinho para o filho se Ali ganhasse. E o menino teria que cortar o cabelo em caso de derrota. Nem preciso dizer que Ali perdeu, todo mundo sabe. E o garoto teve que raspar o cabelo, devidamente enquadrado na ditadura capilar. Mas mesmo hoje, em que os cabelos são poucos, o que resta daquele menino não deixaria, nunca, de colocar suas fichas no sonho, de apostar em Muhammad Ali.



domingo, 9 de agosto de 2015

Coronel Berthier em Copacabana





Quando meu primo dava aula de História antiga, havia um texto que nunca deixava de utilizar, era o livro As origens do pensamento grego, de Jean-Pierre Vernant. É um livro deslumbrante, ao mesmo tempo de História e Filosofia, contextualizando o surgimento desta ruptura com o pensamento mítico em meio à pólis democrática efervescente e conflituosa.

Considerava e considero Vernant o camisa dez no estudo do mito na Grécia. E agora lá estava meu primo, à espera de Monsieur Vernant no belo saguão do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.

Por ser novato, havia sido escalado para buscar e ciceronear Vernant pelo Rio de Janeiro, o que para meu primo era uma honra sem par. Foi esperar o convidado ilustre com um cartaz daqueles de agência de viagem. Mas nele não estava escrito Vernant. Meu primo tinha (e tem) a mania de tentar conhecer um pouco da biografia de autores que ele considera importantes. Descobrira que antes de se tornar um dos maiores especialistas em Grécia antiga, Vernant havia sido do Partido Comunista e lutado ativamente na Resistência Francesa, de forma tão corajosa que até ganhara o posto de Coronel (em Francês "Colonel") precedendo seu codinome "Berthier".

Quando Vernant viu o cartaz "Colonel Berthier" o seu rosto se abriu em um sorriso de paz. Sabia que estava em casa. Seu primeiro pedido foi sábio: queria tomar uma água de côco em Copacabana e ver o mar. Afinal, estava ali um velho marinheiro. Antes de entrar na universidade, já na casa dos 50 e tal, Vernant refizera o pretenso caminho de Odisseus (Ulisses) pelo Mediterrâneo em um veleiro. Só depois de navegar pelo Mediterrâneo é que singrou os mares do mito. Primeiro a vida, a luta, o sonho. Depois a Academia. Ninguém se torna Jean-Pierre Vernant à toa.

7 DICAS MAROTAS PRA TERMINAR SUA TESE




Com As Aventuras da Dra. Eu Ka Liptus e já expus tudo o que eu penso sobre a universidade e a pós-chateação. Mas tem muita gente boa que precisa ser mestre ou doutor, pra ganhar a vida, não pra botar banca. Sendo assim, aí vão as sete dicas do Alvito para quem estiver atravessando este momento difícil da vida. São dicas anti-científicas, não comprovadas, sem metodologia e sem pé de página...

1. NA DÚVIDA, COMECE A ESCREVER, nem que seja um rascunho. Muita gente fica paralisada ao perceber que já se escreveram um milhão de coisas bacanas sobre o tema. OK. Concorda que você poderia pesquisar infinitamente? Poderia mas não pode, você tem um prazo. Portanto, estabeleça a data limite para as leituras e pare religiosamente no dia. Aí sente no computador e escreva, sem compromisso, nem que seja um rascunho... Vai te aliviar e aí vai fluir melhor. Se quiser depois volte a ler os artigos mais importantes e acrescente, computador serve pra isso, gente Emoticon smile

2. DIVIRTA-SE SEM CULPA. Tem que ter uma válvula de escape da tensão, que é muita. Eu iria de samba, mas também serve jogar futebol, peteca, yoga, ginástica, algo que mexa com o esqueleto. E nada de pensar: eu poderia estar escrevendo ou lendo. Você está limpando a mente para poder ler e escrever melhor. Acredite, você está trabalhando na tese. Porque quem vai escrever a tese é você e se você não estiver bem...

3. CONCENTRE-SE NA HORA DE ESCREVER. Offline. Experimenta, não dói não. Ou pelo menos, nada de email, twitter e face. O que você está fazendo lendo isso, fecha esse negócio rsrs e vai escrever.

4. DURMA BEM, ALIMENTE-SE BEM. Vale mais escrever e estudar em horários fixos, regulares, do que varar noites e ficar acabado no dia seguinte.

5. CELEBRE E COMPARTILHE AS CONQUISTAS. Terminou a primeira versão de um capítulo? Convide o parceiro ou parceira pra celebrar (sem exagero). Pode crer que ele estará tão feliz quanto você, pois ele ou ela não vê a hora de você terminar essa joça.

6. REVISE DEPOIS DE TRÊS DIAS. Escreva e depois, que nem bolo, deixe esfriar um pouco. Antes de três dias não dá para revisar. Na revisão, corte ao máximo. Use frases curtas. Machado de Assis, que entendia um pouquinho, dizia que o principal instrumento de redação é o ponto final.

7. VAI DAR TUDO CERTO. Repita mil vezes, sorrindo. Ajoelhar é opcional. Depois respire fundo e vá trabalhar... Boa sorte, os deuses estejam contigo Emoticon smile Emoticon smile Emoticon smile

Um abraço forte e toda a minha solidariedade nesse momento difícil.
Quando terminar vê se me convida pra festa seu ingrato rs...

Marcos Alvito, que já foi vitimado por um mestrado e um doutorado e sabe o que é isso.



7 DICAS MAROTAS PRA SUA TESE FICAR CHUCHU BELEZA



Depois de ler as 7 DICAS MAROTAS PRA TERMINAR A SUA TESE você não deveria estar lendo isso aqui rs, mas agora você quer mais, quer uma tese bacana, bem feita ou, como se dizia em meados do século passado "chuchu beleza". Então lá vão mais 7 dicas bem marotas, sem compromisso, sem lenço nem documento:

1. NÃO HÁ MILAGRE: TEM QUE ESTUDAR MUITO. Lamento informar, mas não há fórmula milagrosa que dê jeito: tem que sentar o bumbum na cadeira e ler, ler, ler, de preferência por pelo menos três horas seguidas por dia. Em um mês são 90 horas... A leitura não pode ser feita à prestação, ou melhor, até pode, mas não rende. O cérebro é que nem um carro antigo, tem que ser aquecido primeiro, mas depois ele voa baixo.

2. APROVEITE AS LEITURAS: FAÇA FICHAS BIBLIOGRÁFICAS DE CONTEÚDO. Ler e sublinhar é bom. Ler e marcar o livro é ótimo. Mas, basicamente, não servem pra muita coisa. Resumos do livro ou do texto todo são perdas totais (ou quase) de tempo. Você tem que fazer fichas soltas, bem específicas, tirando do texto aquilo que te interessa, de acordo com teu tema. As fichas têm lugar também para observações críticas. Ideias são que nem passarinhos: têm que ser pegas no ar senão voam e vão embora. (Que fique claro que sou contra o aprisionamento de passarinhos, viu?). 

* Em anexo, instruções para fazer uma ficha de conteúdo, mas só leia depois de ler as 7 dicas, OK?

3. AO ESCREVER, CONVERSE COM O LEITOR USANDO AS SANDÁLIAS DA HUMILDADE. Escreva como se estivesse contando uma história a alguém. simples assim. Busque a simplicidade. Evite frases longas e palavrório pedante. Calce as sandálias da humildade: frases bem curtinhas, palavras simples. As ideias é que têm que ser ricas, complexas, variadas. Já dizia o Velho Guerreiro (Chacrinha): "Quem não se comunica, se trumbica".

4. TIO ALVITO ADVERTE: CITE COM MODERAÇÃO. É a SUA tese, certo? Então o mais importante são as SUAS ideias, a SUA contribuição, a SUA pesquisa. Os autores devem ser citados sim, na hora certa, para mapear as posições anteriores, para separar o joio do trigo. Mas o mais importante é você apontar a sua contribuição, por menor que seja (estamos de sandálias, lembra?). Se você não está trazendo nada de novo, volte para o item 1 e vai pesquisar, malandro... As árvores que serão abatidas pra você publicar suas 300 páginas em 11 cópias agradecem: não querem morrer em vão.

5. FAÇA DO SEU JEITO, ESQUEÇA AS REGRAS. Por favor, não contem essa pro seu orientador ou orientadora. Se você seguir os itens anteriores ele nem vai ligar que você quebre umas regrinhas básicas. Na minha tese sobre Acari tinha capítulo zero, fotos ao lado do texto e agradecimentos no final. Não sei se estava boa, mas me deram o canudo rsrs. Você tem que ter prazer ao escrever. Caso contrário o leitor provavelmente não vai ter prazer em ler...

6. REVISÃO, REVISÃO, REVISÃO. Primeiro escreva como se o mundo fosse acabar amanhã (nunca se sabe... os deuses são bons mas...). Depois deixe descansar e revise. Cá pra nós, revisão é que nem galinha (com todo o respeito às aves, claro), a dos outros é sempre melhor. Você está dentro demais do seu texto para conseguir lê-lo. Dê para uma outra pessoa ler, de preferência alguém que não saiba nada do assunto. Se ela conseguir ler sem dormir você está no caminho certo. E se você ainda cometer muitos erros, mande para uma revisão profissional, vai ser um dinheiro muito bem gasto, acredite. Academia é que nem o jogo do bicho, o que vale é o escrito Emoticon smile

7. CONCEITOS, QUESTÕES E CONCLUSÃO: O TRIO MARAVILHA. Uma tese não é um amontoado de ideias, muito menos de citações (ver item 4). Você tem que usar conceitos (pergunte ao seu orientador o que é esse troço). Eles organizam as ideias, são as ferramentas fundamentais. Tese, ensinava meu grande e saudoso mestre 
Ciro Flamarion Santana Cardoso (perdão por usar seu nome em vão), tem que ser escrita em torno de uma hipótese, que é, basicamente, a resposta a uma pergunta. Ora, se você não tem uma pergunta, não pode ter uma hipótese e, lamento informar, se não tem uma hipótese você não tem uma tese. Além disso, capriche na conclusão, deixe um bom tempo para redigi-la ao invés de escrevê-la aos 48 do 2o. tempo. É na conclusão, que nem no futebol, que você faz ou não o gol, é aqui que você convence de vez (ou não) ao seu leitor. Vai querer chutar na trave depois de tudo isso?

E como eu falei em quebrar regras, também vou quebrar dando mais uma dica. Capriche nos agradecimentos. Não interessa se a sua tese está chuchu ou abóbora. Você assina e se responsabiliza, mas ela só aconteceu graças a muita gente. Aqui a liberdade é total: vale poema, rap, ciranda e tudo o mais que você quiser.

Espero ter te ajudado um pouquinho. Só escrevi isso porque penei muito pra escrever a dissertação e a tese. A última foi tão traumática que eu lembro de ter terminado em uma 5a. feira às 11 horas da manhã... Aliás, hoje também é 5a. feira, um sinal dos deuses, talvez Emoticon smile. Vai na fé. Como dizem uns amigos que conheço, tamos juntos nessa Emoticon smile Emoticon smile Emoticon smile.

Abraços do Tio Alvito

Papai e mamãe rs

















PAPAI E MAMÃE (olha a maldade aí, gente rs)

Papai era baiano, mamãe portuguesa

Mamãe era fado, papai samba

Papai era risada, mamãe sorriso

Mamãe era espírita, papai espirituoso

Papai era esporte, mamãe literatura

Mamãe era social, papai solitário

Papai era bronca, mamãe explosão

Mamãe era Paris, papai o centro do Rio

Mamãe era palavra, papai silêncio

Papai era Flamengo, mamãe Sporting Lisboa

Mamãe era teatro, papai era cinema

Papai era mistério, mamãe era luz

Mamãe era açúcar, papai salgado

Mamãe e papai, papai e mamãe se amaram e isso é tudo








quarta-feira, 5 de agosto de 2015

DA SÉRIE ESPORTES NADA OLÍMPICOS

ESPORTE RADICAL NÚMERO 2: ANDANDO NAS RUAS DO RIO DE JANEIRO

Faltando exatamente 365 longos dias para as Olimpíadas de 2016, vamos comemorar à nossa maneira publicando mais um artigo da série sobre esportes radicais na cidade de São Sebastião Flechado, apunhalado, fuzilado...

Andar nas ruas do Rio é uma arte para iniciados, dominada por muito poucos, embora praticada por milhões. Nada de decatlo, triatlon, super-maratona, isso tudo é fichinha perto do esporte carioca por excelência.

Para começar, nem sempre há rua. Quer dizer, rua tem, mas essas são dos carros e dos motoristas, sem falar em ônibus, caminhões, motos, caveirões e quejandos. Portanto, esqueça a rua e fique na sua calçadinha. Só que nem sempre há calçada.  É um lugar tão agradável e bucólico que todos lá querem ficar: os automóveis estacionados, os camelôs, os engraxates, as bancas de jornal, a carrocinha de pipoca ou cachorro-quente, os ciclistas (às vezes elétricos!), os carrinhos de transportar mercadorias e por aí vai. Alguns estabelecimentos comerciais também acham de bom tom tomar parte da calçada com suas mesas e cadeiras. Tudo isso torna o esporte muito mais emocionante e difícil, mas é só o começo.

Vamos dizer que exista calçada e um espacinho apertado pra você passar entre uma banca de jornal e um vendedor de amendoim com carvão queimando. Mas tem as poças, porque andar nessas ruas também pode ser um esporte aquático. Depois de secarem, vem a lama para os que curtem um cross-country. E depois da lama, o divino pó da cidade maravilhosa (ó, não vão me interpretar errado viu?). Tem também as pedrinhas portuguesas, sempre emocionantes e diversas. E o cocô de cachorro, em abundância, que até os cachorros cariocas são generosos. Dizem que pisar em m... dá sorte. Tá explicado porque os cariocas se consideram os mais sortudos do mundo.

Vamos subir um pouco, deixemos o chão de lado. Agora vamos falar dos outros competidores, ou será que eu deveria dizer adversários? Os outros pedestres, sim senhor. Cuidado com aquele que vem vindo reto na sua direção digitando no celular. Ele está a fim de uma bela trombada para despertar do seu sono digital. Céu nublado? Prepare-se para treinar a agilidade de abaixar e desviar de guarda-chuvas de todas as cores, tá pensando que vão fazer a gentileza de levantar para você passar? Aqui é cidade olímpica, zé mané, isso aqui é Rio de Janeiro.

Nego fala de Paris, Londres, Nova Iorque. Vê se lá tem uma boa e velha casca de banana pra tornar a vida mais emocionante? Se não tiver também serve papelzinho no chão, também dá pra escorregar legal, depois é só filmar e levar pro Faustão.

Por falar em malandragem, tem também aqueles dias excepcionais (mas nem tanto), em que você pode correr (esporte arriscadíssimo) atrás do sujeito que roubou seu celular (cariocas são muito comunicativos), bateu sua carteira ou rasgou sua bolsa. Se o colega dele não tiver te derrubado no chão antes, sabe como é, nem todo mundo joga limpo.

Tá legal, já dominaste a arte de pisar e de andar. Mas tem sempre o ataque aéreo das pombas, o símbolo maior da paz. Não sei se o bombardeio delas dá sorte, mas sei que dá criptococose, histoplasmose, salmonelose, ornitose, toxoplasmose, dermatites, alergias, psitacose ... Não vou nem falar em bala perdida, bueiros que explodem e coisas do tipo, porque seria covardia, não é mesmo? Chupa, Nova Iorque!

Por isso tudo, tenho que concordar com nosso ilustre alcaide, que sempre elogia o espírito esportivo dos cariocas. Que ele conhece bem, pois se não tivessemos espírito esportivo não aturaríamos um prefeito de m... desses. Falei em m... pra dar sorte, claro. Antes, durante e depois das Olimpíadas vam

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Mini-mini conto: Círculo




A estrada sem fim. Perder-se no céu e juntar-se às estrelas. Morte. Retorno. Medo. Doença-remédio. Obrigado a caminhar lentamente. O mergulho nas águas. Luta contigo mesmo se fores capaz. A alegria está em conversar com esse círculo de olhos e esperanças. Refazer a casa. Tranformar montanhas de objetos e livros em um lar. Respirar. Ver o sol explodir em luz em meio aos prédios. Recomeçar. Sempre. Obrigado.